domingo, outubro 08, 2006

A CIDADE DO SÉCULO XXI - Um espaço computacionalmente activo

Não só pela via do crescimento dos sistemas de telecomunicações, redes de cabo, redes sem fios (telemóveis, Wi-Fi, e em breve Wi-Max) mas também pela necessidade de uma Utilização Racional da Energia e da utilização dos espaços públicos, as Cidades do século XXI são cada vez mais espaços computacionalmente activos . A questão da URE (Utilização Racional da Energia) comporta duas vertentes complementares, a componente de sensibilização da sociedade para utilizar a energia de uma forma sustentável, dado que os recursos energéticos são escassos e caros para as pessoas e para o próprio país e uma componente que tem a ver com a necessidade de construção dos próprios habitats (edifícios) desde a sua fase conceptual (com particular destaque para aquitecturas bioclimáticas) tendo em atenção a Eficiência Energética, é por isso que já a partir de 2007 os edifícios novos serão classificados com um IEE (Índice de eficiência energética).Contudo não se pode esquecer a questão da sustentabilidade e do atingimento de um ìndice de eficiência energética quando de obras de remodelação e/ou ampliação.
Aos edifícios novos passa a ser exigido que incorporem automatismos de prevenção de falhas e perigos ao nível da energia, mas também que acima de uma determinada área de serviços seja necessário introduzir sistemas informáticos de gestão da energia. Em qualquer dos casos estamos perante equipamentos electrónicos que também são consumidores de energia. Nas ultimas décadas os edifícios passaram a ter crescentemente mais automatismos e sobretudo mais equipamentos de media e telecomunicações, também estes consumidores de energia.
Para além do elemento energia com particular incidência nos edifícios começa a ser necessário estabelecer os interfaces tecno-sociais para interligação com o próprio espaço público, que é desde há muito consumidor de energia. Ou seja , quando se fala de computação urbana , compreende-se em primeiro lugar ao nível da utilização de sistemas de telecomunicações como artefactos tecno-sociais, contudo , a necessidade de introduzir sistemas energéticos mais eficientes, compreende-se que é o próprio ambiente urbano como um todo que tem de ser gerido.
Falamos dos aspectos energéticos mas não podemos esquecer que a sociedade está cada vez mais pervasiva em termos computacionais. Há computadores por todos os lados, há portáteis por todo o lado, telemóveis, PDAs etc todos eles cada vez mais potentes e por essa via cada vez mais exigentes também em termos de energia. O conceito de «mobilidade total» associado à sociedade e economia do conhecimento vai exercer pressão sobre a necessidade de geração, aramazenamento e distribuição de energia mais próximos das 'cargas', ou seja no próprio local onde estão a ser utilizadas as energias. Executar tarefas de trabalho independentemente do espaço e do tempo obriga à necessidade de computação autónoma, só possível de uma forma continuada através de artefactos também eles energéticamente autónomos. E aqui surge de facto a oportunidade e a necessidade de utilização de novas energias sobretudo a solar fotovoltaica. Seja para alimentar os espaços públicos e cada vez mais os espaços comerciais e industriais.
Na verdade, a necessidade de perceber o interface energias-telecomunicações em ambientes urbanos, apresenta multipas dimensões de análise que uma sociedade que quer prospectivar um futuro sustentável não pode deixar de considerar. As cidades do século XXI, são nesta perspectiva Infocidades que emergem a partir do conceito de "Multi-cidade" - uma cidade múltipla. O processo de Planeamento para a cidade do século XXI, não pode deixar de considerar as múltiplas dimensões e necessidades emergentes de um ambiente urbano cada vez mais computacional e energético.

CITYWARE

A Infopolis requer interação tecnológica e social de cada indivíduo. À medida que as tecnologias e os serviços baseados na localização e sem fios (wireless) vão atingindo a maturidade, torna-se cada vez mais necessário explorar o relacionamento crescente entre a MULTICIDADE física e cultural e as diversas TOPOGRAFIAS DIGITAIS. Espaços híbridos emergentes que surgem das interacções entre práticas digitais e físicas obrigam a construir definições mais precisas de lugares (Não lugares) e práticas tanto em termos físicos como digitais, bem como perceber as suas interacções, influência, capacidade disruptiva, expansão e interacção com as práticas sociais e materiais dos espaços públicos e urbanos actuais.

A necessidade de estabelecer uma Framework conceptual para Design e Análise de Sistemas Pervasivos descrevem três aspectos destes sistemas em ambiente urbano - o espaço arquitectural, o espaço das interacções, e a esfera da informação - e um espectro de informações . "publicness". São os novos espaços públicos «sem públicos», no sentido de não existencia de pessoas físicamente reunidas num determinado espaço bem definido (situado). Tratar o planeamento numa lógica de FLUXOS E INTERACÇÕES que se estabelecem nos ciber-espaços locais em rede e que é gerido através de um novo conceito - CITYWARE.

O Cityware é um campo emergente em que os computadores e os dispositivos móveis mas também edifícios inteligentes e energéticamente eficientes mediatizam a nossa interacção - na rua, na cidade, nos cafés etc... Existem projectos a correr ainda numa fase inicial mas que apontam já algumas direcções futuras como são os casos do Projecto Semacode e mais interessante o Semapedia ( o equivalente à Wikipédia ) - uma Enciclopédia para os Espaços Físicos e etiquetados electrónicamente com interlização à Wikipédia.) mas agora para elementos físicos da cidade e da sua envolvente : edifícios seja qual for a sua utilização e utilidade, espaços públicos com e sem privacidade etc.

Os conceitos são ainda muito recentes, mas a sua pertinência é real no contexto de criação de ambientes urbanos de computação pervasiva (sistemas computacionais por todos os lados e energéticamente sustentados) e que nos obrigam a pensar a cidade em várias dimensões de Multi-Cidade, assim urge reflectir sobre:

COMPUTAÇÃO URBANA : Navegar no Espaço e no Contexto
IMAGINAR A CIDADE : A Dimensão Cultural da COMPUTAÇÃO URBANA
FACILITAR O SOCIAL NETWORKING - NOS CENTROS DAS CIDADES
DESIGN DE SISTEMAS URBANOS PERVASIVOS
COMPUTAÇÃO PÚBLICA PERVASIVA - TORNAR VISÍVEL O INVISÍVEL

Em próximos Posts, daremos conta do nosso pensamento e dos projectos já em curso um pouco por todo o lado.

segunda-feira, maio 15, 2006

Uma Sociedade em Beta permanente …

A passagem de uma sociedade de mão de obra intensiva para uma sociedade de conhecimento intensivo é um processo complexo que é diferente de complicado. O complexo é gerível ao passo que o complicado é como o próprio nome – condenado a não lucidez e por isso definhou desde a sua génese.

Estamos no meio de um processo de transformação societal de dimensões gigantescas, e só através de políticas activas de dinamização da inteligência colectiva, seremos capazes de lidar melhor com a incerteza resultante de todos os emergentes (novas tecnologias, novas metodologias, novos ideiais, ...) .

Se nada fizermos para promover a noção colectiva de inteligência, não tenho dúvida que a sociedade de informação será fortemente exclusiva, e as consequências serão dramáticas para o ser humano e todas as sociedades por si desenvolvidas.

Não basta lançar buzzwords, mas é claro que é muitas vezes através delas que as pessoas se predispõe a reflectir sobre novas formas de compreensão da situação actual, e se projectam em cenários de realização futura.

Cabe dizer que a sociedade da informação, não vale a pena negá-lo, é uma sociedade exigente, em matéria de utilização da ferramenta mais importante do homo-sapiens : o cérebro.

A vida e o trabalho do século XXI apresentam-se como um paradoxo aparente : uma vida cada vez mais conduzida por actividades de consumo e um trabalho que exige cada vez mais do cérebro, ou seja o homo sapiens sujeito a um número de comutações entre o lado esquerdo (racional) e o lado direito (sentimental) para a qual os actuais sistemas de educação e formação não preparam os cidadãos.

Efectivamente a praxis produtiva actual de Inovação Rotinizada e Obsolescência Tecnológica rapida desenvolve um novo paradigma : de uma sociedade estáctica e de componentes previsíveis para uma sociedade altamente dinâmica a viver permanentemente em versão Beta.

Mas como participar ? Como desenvolver uma Arquitectura de Participação ?

Na ausência de políticas top-down estratégicas em matéria de utilidade da SI, para as pessoas, as empresas e as instituições cabe a cada um a responsabilidade de se integrar em redes de inteligência colectiva, única forma de lidar com a complexidade de todo o processo, mas para isso, não vale a pena pensar que nos integramos só porque utilizamos é preciso saber como transformar utilização em utilidade.

A Rede : da utilização à utilidade

Os processos de transformação da utilização para a utilidade na actual sociedade da informação não podem ser desligados, sob pena de nos iludirmos a nós mesmos, do momento particular de evolução do capitalismo de consumo.

Para efeitos de disseminação de conceitos e práticas da actual sociedade da informação é preciso conhecer os trade-offs que conduzem aos novos processos de acumulação e consequente distribuição da riqueza.

A este propósito, vale a pena recordar aqui de forma tabular alguns «saltos» que paulatinamente vêm a determinar o momento actual e o futuro da Rede, e recuperar a dicotomia modernismo vs pós-modernismo que normalmente ajuda a acumular conhecimento sobre os processos de transformação e a perceber os novos paradigmas .

Modernismo

Pós - Modernismo

Form (Closed)

Antiform (Open)

Purpose

Play

Design

Chance

Hierarchy

Anarchy

Finished

Process / Performance / Happening

Distance

Participation

Genre

Intertextuality

Selection

Combination

Lisible (readerly)

Scriptable (wtiterly)

Determinacy

Indeterminacy

Etc.

Etc.

Fonte : Hassan , “The Culture of Postmodernism”, Theory, Culture , and Society, 1985)

Diria que estão em causa a aquisição / endogeneização de novos conhecimentos, novas competências e novas aptitudes, mas também, e não menos importante a construção de novos valores, novas crenças e novas pesonalidades. O desafio é imensamente complexo e só será realizado com sucesso através do domínio e integração em redes de inteligência colectiva por parte das pessoas, das empresas e das instituições.

O século XXI não pode ser construido com base nas permissas de base industrial estáctica que prevaleceram em todo o século XX. Um século inclusivo e solidário exige a mobilização da inteligência colectiva como forma de expressar o potencial do homo-sapiens para a construção de uma sociedade que olha para o trabalho como um elemento organizador e estabilizador da vida em rede.

A utilidade, seja sob a forma material ou imaterial é o output das ferramentas que suportam a sociedade da informação, no sentido de organizador social mas onde cada ser humano conta, onde cada organização é um pólo de indução de melhores práticas para o todo, e onde a ética, a responsabilidade social e solidária se assumem como meta-valores de uma sociedade em busca permanente de razão.

Francisco Pires

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Da mão de obra ao cérebro de obra

CIDADES E REGIÕES DIGITAIS

À entrada do século XXI, que é ao mesmo tempo a entrada num novo milénio , aparecem estudos cada vez mais convergentes sobre a maior centralidade do cérebro nas acções de caracter social e empresarial.

Se numa sociedade agrícola e mesmo industrial o ser humano teve sempre necessidade de empregar a força física para a realização de trabalho, na chamada sociedade da informação e economia do conhecimento emerge a força cerebral como o novo motor de avanço para o crescimento e sustentabilidade da saga humana.

Neste sentido, para além de um saber fazer operatório aparece a necessidade de domínio de um saber-saber de caracter cognitivo e afectivo que necessita ao mesmo tempo de cuidar dos músculos e... do cérebro. Efectivamente para além da resistência física para lidar com uma mobilidade crescente é necessário dominar e auto-gerir os mecanismos básicos de funcionamento cerebral.

Para além da necessidade de qualificações, emergem sobretudo a aquisição e domínio de competências para um trabalho em «rede de cérebros», e nesta linha de pensamento fica em causa o actual Sistema Educativo e Formativo, que até agora tem agido sobretudo para manter o «status» de uma sociedade mais ou menos parada ou previsível em que não havia muito mais a fazer para além de estabelecer , examinar e credenciar através de níveis de qualificação para uma sociedade marcadamente hierárquica e portanto controladora sem lugar para imaginação e criatividade. Mas a sociedade, acelerou a partir da década de setenta do século XX para patamares de performance, fruto do avanço nas ciências da informação (evolução para uma sociedade interligada globalmente através da Internet) e das ciências da vida (evolução do paradigma genético da proteómica e da biologia molecular).

Ora, dado que no estádio actual da evolução da sociedade e da economia , a mudança permanente faz parte da vida do dia a dia existem um conjunto de situações emergentes que fazem ecludir uma complexidade e imprevisibilidade sobre as acções do trabalho e da vida no século XXI.

Aprender a aprender para o trabalho em rede significa saber preparar o cérebro (ao longo do processo educativo) e ao longo da vida (através de processos formativos) para lidar e gerir em complexidade (que não complicado) com sentido de vida e com sentido de criação de valor através do trabalho que é cada vez mais efectuado através de intangíveis, ou seja através da reorganização permanente de quadros mentais quer do ponto de vista do cidadão, seja no ponto de vista de cliente ou de empreendedor. Os quadros mentais das organizações inteligentes e das pessoas estão hoje sujeitos a intensos processos de mudança, cuja resposta só pode vir de um Sistema Educativo e Formativo inteiramente refundado e renovado.

Estabelecer um sentido novo – refundar comportamentos

Do anteriormente exposto resulta a necessidade de dinamizar um novo sentido para o trabalho e para a vida em que a modelização de comportamentos passa pela refundação de um Sistema de Educação e Formação mais centrado no desenvolvimento do cérebro como fonte e destino de novas competências , acentuando dinâmicas permanentes de imaginação , criatividade e inovação, e dentro desta perspectiva a par da manutenção de níveis físicos aparece o conceito de cérebro de obra como a chave do êxito e o novo «driver» de valor para a manutenção dos níveis de empregabilidade quando for o caso e , ainda mais se na escala de competências de um indivíduo está o empreendedorismo ou seja a capacidade de determinar o seu próprio destino criando riqueza, que é o mesmo que dizer criando novos comportamentos geradores de valor económico mas também societal no sentido solidário para a sustentabilidade da saga humana no século XXI.

Francisco Pires