quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Da mão de obra ao cérebro de obra

CIDADES E REGIÕES DIGITAIS

À entrada do século XXI, que é ao mesmo tempo a entrada num novo milénio , aparecem estudos cada vez mais convergentes sobre a maior centralidade do cérebro nas acções de caracter social e empresarial.

Se numa sociedade agrícola e mesmo industrial o ser humano teve sempre necessidade de empregar a força física para a realização de trabalho, na chamada sociedade da informação e economia do conhecimento emerge a força cerebral como o novo motor de avanço para o crescimento e sustentabilidade da saga humana.

Neste sentido, para além de um saber fazer operatório aparece a necessidade de domínio de um saber-saber de caracter cognitivo e afectivo que necessita ao mesmo tempo de cuidar dos músculos e... do cérebro. Efectivamente para além da resistência física para lidar com uma mobilidade crescente é necessário dominar e auto-gerir os mecanismos básicos de funcionamento cerebral.

Para além da necessidade de qualificações, emergem sobretudo a aquisição e domínio de competências para um trabalho em «rede de cérebros», e nesta linha de pensamento fica em causa o actual Sistema Educativo e Formativo, que até agora tem agido sobretudo para manter o «status» de uma sociedade mais ou menos parada ou previsível em que não havia muito mais a fazer para além de estabelecer , examinar e credenciar através de níveis de qualificação para uma sociedade marcadamente hierárquica e portanto controladora sem lugar para imaginação e criatividade. Mas a sociedade, acelerou a partir da década de setenta do século XX para patamares de performance, fruto do avanço nas ciências da informação (evolução para uma sociedade interligada globalmente através da Internet) e das ciências da vida (evolução do paradigma genético da proteómica e da biologia molecular).

Ora, dado que no estádio actual da evolução da sociedade e da economia , a mudança permanente faz parte da vida do dia a dia existem um conjunto de situações emergentes que fazem ecludir uma complexidade e imprevisibilidade sobre as acções do trabalho e da vida no século XXI.

Aprender a aprender para o trabalho em rede significa saber preparar o cérebro (ao longo do processo educativo) e ao longo da vida (através de processos formativos) para lidar e gerir em complexidade (que não complicado) com sentido de vida e com sentido de criação de valor através do trabalho que é cada vez mais efectuado através de intangíveis, ou seja através da reorganização permanente de quadros mentais quer do ponto de vista do cidadão, seja no ponto de vista de cliente ou de empreendedor. Os quadros mentais das organizações inteligentes e das pessoas estão hoje sujeitos a intensos processos de mudança, cuja resposta só pode vir de um Sistema Educativo e Formativo inteiramente refundado e renovado.

Estabelecer um sentido novo – refundar comportamentos

Do anteriormente exposto resulta a necessidade de dinamizar um novo sentido para o trabalho e para a vida em que a modelização de comportamentos passa pela refundação de um Sistema de Educação e Formação mais centrado no desenvolvimento do cérebro como fonte e destino de novas competências , acentuando dinâmicas permanentes de imaginação , criatividade e inovação, e dentro desta perspectiva a par da manutenção de níveis físicos aparece o conceito de cérebro de obra como a chave do êxito e o novo «driver» de valor para a manutenção dos níveis de empregabilidade quando for o caso e , ainda mais se na escala de competências de um indivíduo está o empreendedorismo ou seja a capacidade de determinar o seu próprio destino criando riqueza, que é o mesmo que dizer criando novos comportamentos geradores de valor económico mas também societal no sentido solidário para a sustentabilidade da saga humana no século XXI.

Francisco Pires